segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Barbies

uma e outra boneca loura despida
pia vedada repleta de água e sabão
fazia verão na minha fantasia infantil
fazia verão e por quê não fazer nadarem as bonecas?
olhando suas silhuetas de mamilos duros feito pedras e seu sexo sem lábios
as bonecas louras despidas
fiz mergulharem os corpos secos
dentro da banheira improvisada
fiz com que se refrescassem de um calor imaginário
- uma por vez
enquanto enrugava meus dedinhos
sedentos das artes e engenhos de delirar
sim, eu passava as tardes de infância
inventando artes e engenhos de delirar.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A redenção de Pedrão

- A cela está superlotada, a gente vai ter que desovar mais um hoje. Bora tirar a sorte no palito?
- Eu nunca ganhei nem ursinho de pelúcia em bingo beneficente, vai você, Chulé.
- Ára...sempre iêu? Pusquê? Manda o Bonapança!
- Meu! Cê num tá percebendo a urgência da situação? Tira logo esses palito, mano, senão o bicho pega! Anda, não embaça!
- Tá bão...sempre sobra pro Chulézim aqui...
- E o Pedrinho, vai ficar aí mudinho? Num vai se manifestá?
- Deixa o cara, meu...o coitado tem comido o pão que o diabo amassou desde que o Freitonho conseguiu habeas corpus...o Freitonho tomava as dores do Pedrinho, protegia ele. Agora, quem será por ele?
- Por isso que eu digo, tem que ter Deus no coração!
- Cunversa...ocê quando assartava os banco num tinha nem tenência de si alembrá de Nosso Sinhô...agora que o Pastor Pinto vem de veiz em quando aqui pregá a Palavra, ocê fica todo si dismanchando pru lado de Deus. Pensa que eu num sei dos rabo di ôio que ocê lança pra ele, disavergonhado?!
- A questão em pauta é a desova, vamos deixar esses pormenores para depois...
- Num cumeça a falá difícir que ataca meus nelvo! Diacho!


Findo o sorteio, a decisão:
- Ficaram empatados Chulé e Pedrinho. Tira a teima com cara-ou-coroa.
- Cara-ou-coroa como, ô pastel? A gente aqui não tem nem tampa de Tubaína! Disgrama!
- Vamo evitá as maledicência, faiz favor. Num carece de se apoquentá! Nóis tira no par o ímpar, tá resorvido!
- E o protegido do mês é...Chulézim!
- Pedrinho lascou-se. Entrou pelo tubo. Vai ser engavetado.
- Mas eu...peraí, gente! Como assim??
- Meu, foi bom te conhecer. Teus maço de Marlboro vão fazer falta, Pedrinho. Mas é hora de dizer tchau, que nem os Teletubies da televisão...diz "tchau", mano.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Encruzilhada

Ela está numa encruzilhada, deixando no matinho as oferendas para, quem sabe desta vez, arranjar um bom partido. Entre o medo e a excitação, acende as velas e deposita no pratinho plástico mais um punhado de jujubas e pipocas. E pede a São Cosme e São Damião felicidade no amor, de uma vez por todas. Mas não pode se demorar: já são sete horas e almodôvar ainda não comeu. Se apressa. A reza sai um tanto atrapalhada. Pensa: mamãe, o quê pensaria de mim me visse agora, nesse desespero por causa de homem? Pára de pensar, larga ali o pratinho com as balinhas e a pipoca e as velinhas acesas. Nem pensa que dali a exatas treze horas aquela inocente oferenda vai incendiar o terreno baldio e despertar do sono as famílias que moram na redondeza. Ela, sempre cautelosa quando se trata de evitar acidentes...Desta vez, estupidamente, provocou uma pequena tragédia - três ratazanas e centenas de baratas foram encontradas mortas junto aos entulhos abandonados.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Olhar para o amor

Seus olhos paravam nos meus
e teimosamente sorriam
e isso ia desnudando o meu íntimo - len ta men te
mas eu lembrava...
lembrava que o meu caminho é solitário
que o amor que carrego por dentro
transborda pra fora do meu cálice-coração
e inunda tudo em volta
e quer é abarcar tudo aquilo que acha bom, bonito e gratuito
Tenta entender, flor do meu jardim, que os seus olhos já me prenderam
e nunca mais vou poder fugir...
Entende também que comigo a pressa não funciona - só me apresso quando se trata
de beber o mel que escapa de você e que me vem como benção que nunca atinei
pedir a Deus.

A nova Dolores

Dolores voltou de férias cheia de "coisas" na cabeça.
Os versos a seguir são uma transcrição dessa sua nova fase. Versos que jorram romantismo, sem ser piegas - ou até sendo, vez em quando, meio melosos.
Deleite-se...

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Rotina que anestesia

Dolores está de férias de si.
Ela agora apenas trabalha no seu salão, manicure sem pressa e sem fome de cutículas.
Chega em casa às seis da tarde, faz cafuné em seu filhote de cão e vai direto para o banho revigorante, com esponja vegetal e sabonete de delicada fragrância.
Janta frugalmente uma sopa de abóbora com meio pão francês sem miolo e bebe meio copo de iogurte (dispensa o café, não quer ficar estimulada na hora de dormir).
Verdade que sente algum tédio, modorra de levantar de segunda a sábado de madrugadinha e pegar o coletivo para chegar ao trabalho. Mas ela mesma prefere assim: cansar o corpo pra não ter que pensar na vida nem em si.
As marcas da última desilusão abandonaram seu corpo de belas curvas - nunca foi mulherão, mas com sua formosa silhueta já arrancou suspiro de muito marmanjo por aí.
As marcas da última desilusão agora moram dentro dela, no íntimo de suas lembranças mais sombrias. Ela prometeu para si que vai viver para esquecer aquele equívoco.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Um corretivo para Pedrão

- Que significa isso, ô pastel? Vem uma hora dessas na casa dos outros com essa merda de papelzinho e diz que se eu não for até a delegacia vou em cana? Qual é, seu bunda mole? Vai ficar com essa cara de bunda me olhando? Cái fora, ô mané! Vaza...
- Primeiramente, senhor Pedro Severino de Jesus...é este o seu nome?
- É sim, mané...
- Pois bem. O senhor está desacatando um oficial de justiça na presença de dois policiais.
- Conversa mole...cadê os merdas dos policiais? E o oficial é você, sua minhoquinha?
- Positivo. E os policiais estão à paisana. Senhores...
- Teje preso, animár! E fica pianinho que tua batata tá assando!
- Éé...tem uma surpresinha lá na DP procê, miserávi. Mas primêro veste uma ropa, ô qué ir de cuequinha samba-canção vermelhinha pro xilindró? Se bem que, quáquáquá...os seus companhêro de cela vão sabê lhe apreciá...

Mingau quente se come pelas beiradas...

- Misericórdia, Dolores, o que foi aquilo??
- O Pedrão está com os dias contados...
- Aquele monstro! Ái amiga...o que quer que você decida fazer, eu te dou todo meu apoio. Você quer capar ele e dar para o almodôvar comer? Quer chamar o pessoal da cooperativa pra dar uma coça nele? Quer dar chumbinho, um grãozinho por dia, pra ver ele morrendo devagar?
- Não Adelaide, minha fiel escudeira. Não vou sujar as minhas mãos nem vender minha alma ao diabo por causa daquele infeliz. E o almodôvar está acostumado a comer ração de primeira qualidade, jamais daria carne podre pro meu filhote comer...
- Você vai deixar assim, de graça?
- Claro que não. Mas tenho que agir de cabeça fria, por isso me matriculei na ioga do Mestre Xaxim.
- Vai fazer ioga nesse estado, cê tá um caquinho, amiga! Desculpe a sinceridade...
- Não tem nada que pedir desculpa, Delái. E essas dores não são nem um terço do que eu estou sentindo aqui dentro...
- O que você pretende fazer agora?
- Continuar vivendo, mas antes...
- Já sei! Eu vou até lá com você. Deixa eu primeiro tirar essa máscara de pepino da cara, hihihi...

Caindo das nuvens

Cansei dessa vida de carência. Pedrão só queria meu dinheiro. Levou embora minhas economias, raspou o cofre de latão, vasculhou minhas gavetas, a dispensa. Pegou o que podia (até meu disco de boleros, que ele dizia que era música de mal gosto...). Só deixou dele algumas manchas roxas a granel pelo meu corpo, elogios indizíveis e dois dedos da aguardente mais barata que existe no mercado. As manchas vão sair com pomada, em alguns dias. A dor no corpo também. Mas a outra dor, não. Vai me acompanhar a vida inteira, vai ser meu sinal de alerta contra a aproximação de tipos como ele.

sábado, 14 de junho de 2008

Terrível dilema

-Marcolina, minha filha, você precisa me ajudar!
-Que foi que teve dessa vez, Dolorita?
-O Pedrão voltou a me procurar, prometeu que dessa vez quer tudo sério, tudo direitinho. Que outro homem na minha vida ele não vai admitir porque agora vai ser tudo preto no branco, tudo de papel passado, que vai me dar dois dias pra pensar e enquanto isso ele vai arrumando as trouxas dele, vai levando lá pra casa. Ái meu Deus o quê que eu faço? Logo agora que eu já tava me ajeitando tão direitinho com o Álvaro César, já tô quase convencendo ele de que a gente tem que se juntar, que esse negócio de cada um num canto isso não dá certo. Me aparece o Pedrão!
-Oh minha amiga, pois você tá é bem servida. Imagina, dois homem pra uma mulher só. Ái se fosse comigo...
-Ô Marcolina, isso não é hora pra brincadeira! Você sabe que eu não quero mais saber do Pedrão. Com ele não tem futuro. Ele motorista de ônibus, já viu? E sem contar o jogo...ele tá me devendo uma nota. É minha filha, se eu não emprestasse o cara lá disse que cortava o dele fora...Vige! Não gosto nem de pensar, por isso paguei. Imagina o Pedrão sem...
(continua)