sábado, 14 de junho de 2008

A briga e as pazes

A luz da cozinha está acesa. Fumo uma cigarrilha de chocolate enquanto provo doce licor de uva e nos intervalos mordo algumas salsichas em conserva. Ele não ligou nem escreveu. Hoje é o aniversário do nosso quinto mês de namoro. Eu também não liguei. Brigamos porque eu estava experimentando sapatos caríssimos na Bom Chulé, sapatos que meu cheque especial não pode comprar. Experimentando, minha amiga Judite sempre me diz, "experimentando a gente atrai a energia e um dia a gente consegue, de tanto que desejou". Mas o Álvaro César não entende essas coisas. Ele ficou sentado na praça de alimentação, o tempo todo de cara amarrada porque tinha perdido o jogo do Flamengo e, na pressa, esqueceu o bendito radinho de pilha no carro. Bem feito! Detesto aquele radinho cafona que ele gruda no ouvido pra acompanhar o campeonato. Mas eu queria tanto que ele estivesse aqui...Daí eu ia toda pequeneninha pra junto dele, fazer as pazes toda mansinha, concordando que a culpa foi toda minha mas que ele não me judiasse não senhor, que da próxima vez eu ia pro shopping sozinha ou com a Judite ou com Zefinha. Vige, a campainha!
- Oi morena...
- Oi meu dengo...
- Eu vim te trazer um presente e pedir pra gente ficar logo na boa, que eu não gosto de brigar contigo não...
- Oh meu dengo, você comprou o sapato, misericórdia! É muito caro!
- Mas você merece, morena. E também merece que eu te pegue assim ó...
- Ái Césinha...entra pra dentro, os vizinhos vão ficar tudo olhando, morro de vergonha!
- Já tô entrando...

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